Em 2007, P’ng Loke, especialista em imunologia e parasitologia foi almoçar com um paciente que sofria de uma doença inflamatória intestinal chamada de colite ulcerativa. Alguns anos antes, o paciente havia lido a respeito de uma terapia helmíntica, que ainda não havia sido aprovada pelo FDA, agência americana responsável pelo controle de medicamentos. Mas era objeto de pesquisa, conduzida por gastroenterologistas e parasitologistas. A ideia é que as pessoas portadoras de doenças autoimunes possam aliviar seus sintomas por infestação deliberada de vermes parasitários ou lombrigas, como o Ascaris lumbricóides ou a Trichuris trichiura. Supostamente, elas acalmam o sistema imunológico humano com o objetivo de sobreviver no organismo. Em numerosos estudos com animais, esses parasitas protegeram ostensivamente os roedores de uma ampla variedade de doenças imunológicas, incluindo colite, asma, artrite reumatóide, alergias, alimentos e diabetes do tipo 1. O homem se convenceu de que a terapia poderia funcionar para ele e, desde 2004, começou a ingerir ovos de vermes adquiridos na Tailândia. Ele está praticamente livre dos sintomas. Loke poderia ajudá-lo a compreender como os vermes trataram sua colite?
Fig. 1 - Ascaris lumbricóides
Apesar de cético num primeiro momento, Loke concordou. Em um artigo recente publicado na Science Translational Medicine, Loke, agora na New York University, e seus colegas sugerem que os vermes realmente foram eficazes no tratamento da colite. Repetidas colonoscopias mostraram que, nos locais onde os vermes colonizaram o cólon do paciente, os sinais de colite (feridas abertas e inflamação) desapareceram ou tiveram uma redução significativa. E, mais importante, Loke demonstrou por meio da análise de tecido que os parasitas devem funcionar pela estimulação da produção de muco gástrico. Acredita-se que a colite, doença associada à deficiência na produção de muco, ocorre quando o sistema imunológico ataca as bactérias benignas que vivem nos intestinos. O volume extra de muco seria capaz de acalmar o sistema imunológico e evitar que ele ataque esses microrganismos.
“Não se trata de um estudo duplo-cego, mas o padrão sugere que os vermes de fato ajudaram o paciente”, defende Joel Weinstock, gastroenterologista da Tufts University, pioneira nas pesquisas sobre terapia helmíntica. “O ponto principal desse artigo é o mecanismo potencial (produção de muco) que não havia sido devidamente examinada até então”.
Referências: JABR, Ferris; Scientific American Brasil; Editora Duetto; Ano 9. Nº 106; março 2011.
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