Acho que o mais apropriado antes de iniciar discussões científicas, seria discutir o que é a ciência em si; o que ela representa e o que é representado por ela; onde, quando e como ela surgiu...
Por onde começar a busca por estas respostas? Que tal o dicionário?
Ciência: 1. Conjunto metódico de conhecimentos obtidos mediante a observação e a experiência. 2. Saber e habilidade que se adquiri para o bom desempenho de certas atividades. 3. Informação, conhecimento; notícia. • Ciências biológicas. As que estudam os seres vivos. Ciências humanas. O conjunto de disciplinas que têm por objeto o homem, do passado e do presente, e seu comportamento individual ou coletivo. Ciências Naturais. A biologia, a botânica, a zoologia, a mineralogia e a petrologia.(2)
Ciências: Disciplinas escolares e universitárias que compreendem a química, a física, a biologia, a matemática, a astronomia e outras.(2)
Como assim?!... Acho que falta alguma coisa nessa definição do que é ciência... onde ele menciona a química?! Será que química é apenas uma disciplina escolar e universitária, ela não foi classificada em nenhuma das ciências (biológicas, naturais e humanas). Tudo bem!... Se a química fosse uma ciência pouco conhecida, eu não ficaria, digamos... desapontada... mas tudo bem... eu não desisti... busquei outro livro, mas não um dicionário. E vejam só... ele diz que: “As ciências naturais incluem disciplinas que procuram mostrar um estudo sistemático da natureza. Entre elas citamos: a física, a biologia, a geologia, a astronomia ... e a química.” (3) – Tudo bem que é um livro de química...
Bom diante de um livro de química... porque não aproveitar e ler a definição que ele faz da química?!... Russel, o autor, começa com uma pergunta simples: O que é química? Então ele responde:
A química estuda a natureza, as propriedades, a composição e as transformações da matéria. O campo de interesse e aplicação da química é tão amplo que envolve quase todas as outras ciências: por isso, muitas disciplinas estão interligadas com a química, tais como: a geoquímica, a astroquímica e a físico-química.(3)
Eu poderia citar inúmeras outras disciplinas interligadas como: bioquímica, quimiometria, química orgânica, química clínica etc. Por isso concordo com o Russel quando ele afirma que muitas disciplinas estão interligadas com a química, aliás, isso é tão verdadeiro que em determinados momentos a química se confunde com outras disciplinas ficando, muitas vezes, impossível de dizer se o assunto tratado pode ser classificado dentro da química ou de outra disciplina.
Quântica, por exemplo, é química ou física... difícil de definir... hummm... definitivamente... físico-química?!... Pronto resolvido o problema?! Contudo, se vocês forem pesquisar, vão descobrir que quântica dificilmente é classificada como um tema da físico-química, o que comumente ocorre, é a presença de duas denominações para o mesmo tema: Química Quântica (nos cursos de química) e Física Quântica (nos cursos de física). É claro que cada curso acaba focando o que mais interessa a ele, e inclui um ponto de vista particular do curso, mas no fim, o conteúdo estudado é o mesmo. O que eu quero dizer com isso?! Simples... a discussão não terá fim... e para mim, não importa a classificação da química, e nem as divisões da ciência, isso está sempre em discussão e constante mudança. O que realmente importa, é a essência da ciência e de tudo o que ela engloba.
Será que mesmo depois dessas definições conseguimos compreender o que é ciência?
Rubem Alves diz que: “A ciência nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado.”
Senso comum?! O que é isso? Entende-se por senso comum tudo o que é relativo aos pensamentos, conhecimentos e ações comuns, de pessoas comuns...
Retomemos à primeira descrição que Aurélio faz de ciência: “Conjunto metódico de conhecimentos obtidos mediante a observação e a experiência.” Posto isso, eu pergunto? E o senso comum?! Enquadra-se nessa descrição? Muitos diriam que não, mas eu discordo! A diferença é que a ciência tem seus métodos baseados em regras rígidas e, o senso comum, em instinto. Sendo assim, a frase de Rubem Alves faz todo o sentido... A ciência é o senso comum, mas um senso comum que passou por sistema de aprovação científica... Pensem... se a ciência não fosse o senso comum refinado, porque tantos cientistas se interessam pelo conhecimento do senso comum para desenvolver suas pesquisas?...
Falando em senso comum, pessoas comuns, ciência e cientista, “o que as pessoas comuns pensam quando as palavras ciência e cientista são mencionadas? Faça você mesmo um exercício. Feche os olhos e veja que imagens vêm à sua mente.” (1)
E então?! Posso adivinhar?! Você provavelmente pensou em um homem vestindo um jaleco branco, usando óculos, cabelos brancos ou grisalhos e todo bagunçado, que balbucia palavras inteligíveis para maioria dos mortais e escreve cálculos que mais parecem um código de uma língua há muito extinta.
Passei perto?! Ou acertei na mosca?! Essa é a imagem que geralmente se faz do cientista, alguém que sabe sobre o que está falando e cabe às pessoas comuns, que não compreendem o que ele compreende aceitar e acreditar no que ele diz... Rubem Alves, também diz que o cientista virou um mito, e que todo mito é perigoso... o que ele quis dizer com isso? Bom... existe uma outra imagem do cientista que eu não descrevi, é aquele que tem uma especialidade, ou seja, o médico, o dentista, o químico, o biólogo etc. Estes, são representados por homens ou mulheres vestindo aventais impecavelmente brancos, que falam de pesquisas que comprovam o efeito desejado. Efeito desejado?! Sim, está é a imagem que a televisão criou destes especialistas (cientistas)... e esta imagem, atualmente, é usada para vender produtos de higiene pessoal, domissanitários, cosméticos, remédios etc. E a geração atual não chegou a ver os comerciais de cigarros, influenciados por médicos... podem imaginar?! Por isso temos que tomar muito cuidado com a imagem que nos é passada de que o cientista é uma autoridade que deve ser ouvida sem questionamentos, sem pensar a respeito... e que a ciência é algo distante, presente na vida de apenas alguns loucos que se aventuram a aprender cálculos insanos e absorver uma quantidade de informações sobre-humana.
A ciência e o cientista não estão tão distantes, são acessíveis a todos os que demonstram interesse por eles. Um cientista é uma pessoa comum, mas que tem um conhecimento cientifico diferenciado, digo diferenciado, pois mesmo o conhecimento do cientista é limitado, não existe nenhum cientista que seja dono da verdade absoluta sobre o universo científico.
Outro trecho interessante do livro de Rubem Alves que acho importante comentar:
“Dê um peixe a um homem faminto.
Quando o peixe acabar e a fome voltar, ele retornará para pedir mais.
Ensine o homem a pescar.
Ele nunca mais voltará.”
O que essa frase significa? Simples... Aquele que possui conhecimento, não depende dos outros para viver... ou seja, o conhecimento é a arma mais poderosa e o bem mais valioso que uma pessoa pode ter. Quando falo conhecimento, não me refiro apenas a ciência, mas em nossa sociedade, quanto maior o conhecimento tecno-científico que uma pessoa possui, maior a possibilidade dela encontrar uma posição melhor. Pensem a respeito...
Referências:
(1) ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência: Introdução aos jogos e suas regras. 6. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
(2) FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da língua portuguesa. 4. ed. rev. e ampl., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
(3) RUSSEL, John Blair. Química Geral. Tradução e revisão técnica: Márcia Gukezian [et. al.]. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994. 5 v.
[artigo misto]
Esse final me faz lembrar de Carl Sagan. Ele era impressionado pelo fato de a sociedade depender tanto do conhecimento técnico-científico e, ao mesmo tempo, ser tão ignorante a respeito dele.
ResponderExcluirO cientista e a criança têm o mesmo impulso de curiosidade. Mas, o cientista deve ter mais senso de perigo.
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